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Limpei os olhos. Não
conseguia enxergar direito. Estava tudo meio embaralhado por causa da chuva que
há dez minutos havia começado a cair.
“Só tá chovendo aqui no
Colégio”
Muito estranho, mas a
chuva só caía na frente da escola. Muitas nuvens escuras cobriam o lugar. Vez
ou outra alguns raios cortavam o céu em direção ao Planetário.
“Cacete! Acho que tô
perdendo a festinha”
Larguei o Inércia na
esquina do Colégio e saí correndo. Corri o máximo que pude. Pulei o muro, rolei
pela grama e continuei correndo cada vez mais rápido. A chuva embaçava mais a
minha visão e eu já estava com bastante dificuldade pra enxergar. Mas não parei
de correr.
“Sou Detetive, porra! Não
posso perder uma missãozinha boba como essa”
O Planetário era gigante.
A porta devia ter uns dez metros de altura e estava com um aspecto
fantasmagórico. Parei na entrada.
“Você tá aí, Cramunha?”
Nada. Perguntei de novo.
“Psiu... Cadê você,
Cramunha?”
-
Mas que Diabo! Isso é hora pra você sumir?!
“Ei, Detetive”
A voz do Cramunha vindo de
dentro do Planetário. Entrei. Sabe o laboratório do pai do Frankenstein? É por
aí. O negócio lá dentro era muito esquisito. Luzes, raios, coisas verdes
escorrendo pelas paredes, máquinas bem estranhas, pirotecnia de primeira, coisa
de gente premiada.
“Não tô te vendo”
“Vai vindo... tô aqui no
fundo”
Continuei caminhando.
Gosmas no chão. Aquilo mais me parecia filme de alienígena. Um vulto lá no
fundo.
“E aí, Cramunha, cadê a
festinha?”
O cara não parecia o
Diabo, ele me lembrava mais o H.R. Giger.
-
Ei, que você tá fazendo aqui, Giger?
-
Quem é você?
Ele me perguntou meio
bravo.
-
Detetive Linhares, estou procurando um...
PLAM!
Uma porta se abriu do meu
lado direito e uns caras pularam em cima de mim e me amarraram.
-
Ei! Quem são vocês? Me larguem seus merdas! Cramunhaaa!!!
“Putz... fui muito
cagãozinho agora...”
A voz do Cramunha veio do
meio de umas sombras ao fundo do Planetário. Passos. Ele veio vindo devagar,
“veio vindo é ótimo”
enquanto eu era amarrado
por uns caras muito monstruosos na maca do Frankenstein.
-
A rapaziada aqui é barra pesada, hein, Seu Giger?!
-
Não é nada pessoal, Detetive, mas...
Um par de pernas saiu das
sombras: um vestido vermelho.
“olha, a moça gostosa do
poodle esmeralda”
-
... acho que precisamos...
E de repente era o H.R.
Giger.
-
...ter uma conversinha...
“humm, o cara é uma
espécie de mágico”
-
...pra eu te explicar como...
“Madame Toussaud!”
-
...as coisas funcionam...
“CRAMUNHA!”
-
...por aqui.
Por um instante eu me
senti meio traído. Meu melhor amigo tinha armado aquela pra mim, e eu nem sei
porque.
- Eu não armei nada pra você, Detetive. Eu só quero
impedir uma outra pessoa de tomar o meu lugar.
-
Que? Como assim?
Um dos “funcionários”
começou a reclinar a maca pra que eu ficasse na vertical.
-
Que tal um cafezinho, Cramunha?
-
Os planetas estão quase no alinhamento.
-
E?
-
A lua vai refletir uma luz no exato momento em que os planetas estiverem
alinhados. Essa luz viajará até aqui. Se as esmeraldas estiverem posicionadas
naqueles pedestais, produzirão uma luz verde e nada mais. Porém, se alguém, um
ser humano, por exemplo, se colocar à frente da luz verde, ganhará poderes
extraordinários, tipo, imortalidade, super-força, visão noturna...
-
Um vampiro?!
-
Exato! Por isso eu quero pegar esse cara antes que ele faça isso.
-
Como aquele rapaz da Romênia...
O Cramunha começou a se
aproximar de mim. Veio em minha direção me olhando nos olhos com cara de
maníaco.
-
Isso mesmo, Detetive. Como aquele idiota que tentou passar a perna em
mim.
-
Ah, tá. Entendi.
Ele chegou bem pertinho de
mim. Até achei que ele fosse me dar um beijo. Então, Ele estendeu a mão para o
lado e um dos seus “funcionários” lhe entregou uma pinça. Na verdade, era um
daqueles boticões de dentista. Eu não conseguia me mexer, então, fiquei apenas
olhando ele enfiar o troço nos meus olhos e os arrancar pra fora.
Logo em seguida, um dos
seus “funcionários” veio até mim e recolocou meus olhos no lugar. Fiquei cego
por um momento. Não sei quanto tempo. Ele me aproximou um espelho. Fui abrindo os olhos bem
devagar...
-
Humm... Nada mal. Sempre imaginei como eu ficaria com os olhos
castanhos.
Um dos capangas do Diabo
me soltou. Escorreguei pela maca até o chão.
-
Daê, Cramunha. E o que acontece agora...
Ele estava do outro lado
do Planetário com a cabeça de um cara na mão. Tinha um corpo caído no chão.
-
Perdi o melhor da festinha?
-
Essa aberração não vai mais nos incomodar.
- Que massa.
A gosma no chão tinha
secado e já não tinha mais tantos raios como antes de eu ficar cegueta. Os
“funcionários” do Cramunhão já tinham terminado de limpar o lugar e estavam indo
embora. O céu estava limpando. Algumas estrelas. Lua nova.
-
Já está amanhecendo, Detetive. Acho melhor irmos embora.
-
Ok. Mas... posso te fazer uma perguntinha?
-
Sim.
-
E o poodle?
fim
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