quinta-feira, 29 de março de 2012

SUJEIRA DA BRABA, parte 3


Jéssica

- A gente precisa de mais informações sobre o Carne Seca. O idiotinha vai dedurá a gente, mas o Carne não vai vir atrás. Ele vai armá alguma pra tentar dá o troco.
Levantei, passei a mão no telefone.
- Chefe de polícia?
- Alô? Quem fala?
A voz do chefe estava sonolenta. Esqueci que eram três da matina.
- Detetive Linhares.
- Isso é hora, detetive?
- O crime não tem hora.
- O que você quer?
- Preciso da ficha do Carne Seca e do que vocês tiverem sobre ele.
- Porra, Linhares, mas agora?
- Ele tá subindo de Paranaguá com um carregamento de drogas e eu quero pegá-lo amanhã.
- Merda! Como você sabe?
- Eu sempre sei.
- Vá pro distrito. Te encontro lá.
Casaco, cobertura e a Jéssica. Fui até o distrito. Quase vinte e quatro horas sem dormir; o corpo em frangalhos; capturar um traficante; e o Lufe dando uns “pegas” na Mamá.
- Vô levá um vidrinho mágico comigo.
Cheguei no distrito e já reconheci alguns safados. Uma prostituta que estava sentada à espera de cair na jaula colou em mim.
- Hummm... olha quem tá por aqui. Veio me visitá,  Detetive Linhares?
A lazarenta não tinha um dente na boca: crack. Fumava pra esquecer da vida e das noites seguidas na encruzilhada: Cruz Machado com Ermelino de Leão. Eu a tinha como uma espécie de contato. Vez ou outra arranjava umas pedrinhas pra ela e ela abria a boca.
- O que foi dessa vez? Tapa, soco, tiro ou o cara se recusou a pôr a camisinha?
- Adoro o teu humor, Detetive.
Toda vez que ela falava a palavra “Detetive”, ela tinha a mania de meter uma voz sensual na güela.
- Quer parar de bancar a sensual pra cima de mim, caralho! Preciso de umas dicas.
- Unas dicas calientes? Humm... Que tal a se nóis fumá uma pedrinha lá em cima do Gato Preto?
- Não vai dá, honey. Tenho um encontro com o chefe de polícia. O que você ouviu por aí sobre um tal de Carne Seca?
- Carne Seca é a minha bunda, olha só.
Virou a bunda magrela pra mim. Quis enxotá-la. O cu parecia o cano de escape do Inércia.
- Guarda essa porra, Paty.
- Ai, que grosso. Cê já foi mais cavalheiro, Detetive.
Puta que me pariu, a voz caliente de novo.
- Se você souber de alguma coisa me dá um toque. Quem sabe você não vai pra casa ainda hoje.
- Cê consegue isso, Detetive?
A voz sumiu de repente. Ela tinha começado a falar sério.
- O que cê sabe do Carne Seca?
- Tão dizendo que ele qué tomá conta das rua. Botá a putarada toda pra passá droga pra ele. Nunca vi o corno, mas tá todo mundo com medo de que ele comece a mandá nas rua.
- E o que o teu patrão acha disso?
- Aquele filho-da-puta num tá nem aí pra nóis! Só qué sabê da grana dele!
- Mas ele falou alguma coisa.
- Não. Faiz trêis dia que não vejo ele.
- Toma. Pra vê se você lembra de alguma coisa. Eu volto em meia hora.
Dei um tequinho pra ela. Cheirou feito um tamanduá. Ela sabe mais sobre o que está acontecendo, mas tem seu preço. Deixei-a sentada, refletindo, e subi até a sala do chefe Tavares.
- Boa noite, Linhares. Por favor, sente-se.
- Tô bem de pé.
- Café?
- Sem açúcar.
- E então?
- Pegamos uma festinha hoje de noite, bancada pelo Carne Seca. Coisa pequena, mas o cara abriu a boca.
- Aqui está a ficha dele. Coisa pouca é bobagem. O cara já foi preso quatro vezes por tráfico, assalto a mão armada, homicídio, latrocínio, prostituição de menores, extorção, seqüestro, blá blá blá, mas fugiu as quatro. Não passa mais do que um mês preso.
- Quem banca as fugas dele?
- Policiais infiltrados. A rede dele é grande.
Enquanto o chefe falava, eu lia a ficha do safado.
- Diz aqui que não tem residência, nem família. Nada.
- Você acha que eu chamei vocês porque? Ninguém consegue pegar o cara.
- Alguém sabe que estamos no caso?
- Não. Contatei vocês direto.
- Que continue assim. Posso ficar com isso?
- Claro.
- Eu entro em contato.
- Boa sorte, Detetive.
Desci e no meio do caminho escutei uma gritaria. Paty. Algum cana estava levando-a pra cela.
- Qual é o problema, policial?
- Ela vai dormí na jaula. Hehe!
Essa corja de policias vagabundos adora prender as prostitutas e abusar delas no meio da madrugada.
- Pode deixá que eu fico com ela.
- Mas ela vai ficar presa. Tava com pedra na bolsa.
- Converse com teu chefe. Agora eu vou levar a moça. Com licença.
Ela gentilmente mandou o policial se foder mostrando o dedo pro rapaz. Entramos no Inércia.
- Olha, Detetive, desculpe te chamar de grosso.
- Paty, eu não te soltei pra ouvir elogios. Quero saber do paradêro do Carne Seca.
- Eu não sei! Quem me falou desse cara foi a Bruninha.
- Cadê a Bruninha?
- Cê qué que eu fale com ela?
- Não. Você fica por aqui.
- Valeu, Detetive.
- Vaza, Paty. Sem beijinhos!
Ela desceu do carro e saiu pela escuridão. É um bicho da noite. Feito gato pardo sumiu nas sombras. Eu não iria correr atrás de prostitutas pela noite. Essa tal de Bruninha não deveria saber mais do que a Paty.
- Muito me interessa saber quais idiotas estão envolvidos com o esquema do Carne Seca.
Fui até a Night Estories encontrar o Lufe. Os seguranças vieram em minha direção.
- Cadê o Lufus?
- O que você quer aqui, Linhares?
- Cê vai dizê onde tá o Lopes, ou eu vou ter de entrar nessa espelunca e quebrá a merda toda pela vigésima vez?
Ficou me encarando. Ele ficou puto com a intimada, mas eu não estava nem aí pra cara feia. Desci do carro. O brutamontes fez um contato pelo rádio. Conferi se a Jéssica estava carregada.
- Espero que você esteja chamando alguém que eu quero ver.
O Lufus saiu da bodega.
- E aê, Linhaça! Veio vê umas meninas.
- Tô com a ficha do Carne. A gente precisa agir.
- Pô, Linha! Tô tomando um drink com a Mamá. Ainda nem apresentei pra ela a parada.
- Bóra, Lufus. Preciso de você. O negócio tá esquentando.
- Porra! Tá certo! Espera aí. Vô dá um tchauzinho pra Mamá.
O Lufe entrou. Os dois seguranças vieram falar comigo.
- Cê só é macho com essa porra na mão.
- Ééé! A gente ainda pega você, Detetive. Vâmo quebra teus osso e dá o resto pros bicho comê!
- É “ossos”, imbecil!
Eu estava com a raiva saindo pelos poros. Muito tempo sem dormir. Muito pó na cabeça. Estava pouco me fodendo de matar mais um ou dois nessa noite. Joguei o casaco dentro do Inércia.
- Pega ele, Lufus!
O idiota olhou pra trás. Meti um chute nos bagos do cretino que estrebuchou no chão. O outro voltou o olhar pra mim.
PAF!
Um tapa de mão aberta no meio da boca com a mão direita. Com a esquerda agarrei o pescoço do cara e apertei o suficiente pra ele lembrar de não olhar mais pra mim.
- É o seguinte: esquece que eu existo e eu esqueço de lembrá de você, ok?
Ele não conseguia respirar.
- Ok?
Com a voz falhando ele concordou. O Lufe saiu do bar.
- Porra, Linhaça! Eu te deixo aqui fora dez minutos e você já arruma confusão? Caralho! Aqui é a minha casa! Você não pode vir aqui toda vez e saí no tapa com os seguranças.
Entramos no carro.
- Cara, a Mamá tá de cara com tuas aparições por aqui. Cê sabe que o idiota do Torres pode armá uma pra cima de você.
- A ficha do cara tá no banco de trás.
- Porra! Parece a Bíblia!
- Tô sem idéias. Precisamos pensar.
- Vâmo pro escritório.

(continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário